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Budismo, meditação e cultura de paz | Lama Padma Samten

As Cinco Sabedorias e as Terras Puras

Transcrição do ensinamento oferecido por Lama Padma Samten no dia 10 de abril de 2021, durante o retiro “As terras puras e a prática na vida cotidiana”

O Buda nos oferece uma visão de lucidez, que possamos progressivamente incorporar e tomar como referência. Essa visão conduz a nossa mente, a nossa energia e as nossas ações de corpo. As cinco sabedorias são a própria manifestação do Buda primordial, da mente livre e luminosa, a natureza que não é um ser ou uma pessoa. É a experiência unificadora, que nos faz convergir em direção à liberdade e à espacialidade, é o ponto de contato de todos os seres. Desde esse ponto de contato, surgem cinco sabedorias que podem nos ajudar a construir todas as terras puras e todas as mandalas.

Sabedoria do Espelho

O processo começa com a sabedoria do espelho, uma forma de descrevermos a mente primordial, totalmente livre, lúcida, inseparável de cada ser. Essa lucidez não tem barreiras, não tem obstáculos. A visão do Buda alcança todos os mundos. A sabedoria do espelho parte desse lugar conjunto a todos os seres, que é liberdade e luminosidade. Quando o Buda olha os seres em diferentes lugares, ele reconhece a sabedoria búdica dos seres e os condicionantes que estão utilizando para validar suas visões e andar no mundo. O Buda consegue ver isso, porque não há separação entre as mentes. Do mesmo modo que ele olha sua própria mente, ele vê como a mente do outro está operando e entende cada ser em cada nível do samsara, e assim ele penetra infinitos mundos.
A mente ampla é como um espelho, ou seja, quando olhamos um espelho aparecem imagens. No entanto, elas não estão aderidas ao espelho. O espelho é totalmente livre das imagens, é como a nossa mente. Ainda que apareçam muitas imagens, a nossa mente é como um espelho: as imagens não aderem, não pertencem ao espelho, que corresponde a essa dimensão totalmente livre.
Todos os seres olham em múltiplas direções e se comportam a partir das imagens que surgem nos espelhos das mentes deles, essa é a tragédia do samsara. A sabedoria do espelho nos leva a compreender que aquele ser, que está se movimentando, vê a aparência no espelho da sua mente e reage a essa aparência, pula para dentro do espelho, se move dentro da realidade do espelho e perde a consciência da sabedoria do espelho. Se entendermos que todos os seres estão presos dentro dos espelhos das suas mentes, podemos facilmente entender a noção de coemergência. Nós temos um conteúdo na mente que aparece como as imagens que surgem dentro do espelho. Os referenciais internos surgem como aparências no espelho. A gente deveria olhar isso cuidadosamente. Todos os seres, sejam quais forem, operam deste modo, e nós também.
Estou descrevendo a sabedoria do espelho no aspecto sutil, ou seja, um tipo de inteligência operando. Mas é importante olhar o aspecto secreto, a manifestação da mente primordial totalmente livre que, olhando os seres, reconhece como eles estão operando. A sabedoria do espelho clarifica totalmente a originação dependente, pois brota da natureza livre e não de um condicionante. Ela brota quando o Buda Akshobia repousa neste espaço e olha os seres.
Quando olhamos os seres a partir da sabedoria do espelho brota compaixão e amor, o reconhecimento das qualidades elevadas do outro, da natureza búdica no outro. A compaixão e o amor dão origem a uma dimensão de alegria, que corresponde à operação da energia livre das aparências. Quando a nossa energia depende da configuração das aparências diante do referencial de bolhas de realidade, não temos alegria, temos sempre algo na dependência das aparências. Mas quando surge essa capacidade de olhar de forma profunda a partir da sabedoria do espelho, surgem compaixão e amor, de onde brota essa energia autônoma. Isso dá origem à equanimidade, ou seja, a compreensão e a visão de que os múltiplos seres e as múltiplas aparências são um “enrosco levemente diferente da mesma coisa”, não tem diferenças. Equanimidade também significa ausência da flutuação da energia diante das coisas.
Então, surgem as quatro incomensuráveis: compaixão, amor, alegria e equanimidade, que são a base para o surgimento das seis perfeições, formas de ação e formas de treinamento dos bodisatvas. A generosidade surge com a clareza da sabedoria do espelho: ainda que pareça que há um ser a quem vamos oferecer alguma coisa e beneficiar, não há nenhum tipo de engano com relação à sabedoria do espelho. Os seres são manifestação do aspecto primordial diante de nós.

Sabedoria da Igualdade

A segunda é a sabedoria da igualdade, ligada à compreensão da total inseparatividade dos seres, que são nós mesmos operando com outros referenciais. Olhamos para o outro com o olho de quem aprende o que ocorreria se estivéssemos naquele lugar. É uma sabedoria de identificação. Quando nós fazemos alguma coisa pelo outro, não teremos a sensação de estar fazendo pelo outro.
Quando nós olhamos os seres nos diferentes lugares e operando de diferentes formas, como nós nos vemos inseparáveis e os vemos com a natureza búdica, nós nos sentimos enriquecidos pelas experiências que eles têm, pela felicidade e boas coisas que eles têm, como se fôssemos nós mesmos. É como quando os filhos têm boas experiências e os pais se alegram, não é como se houvesse uma distância ou uma separação. É a sabedoria da igualdade, da identificação, da unidade. Ela propicia a empatia e a compaixão pelos seres. A visão da igualdade propicia a capacidade de identificação com os seres.

Sabedoria Discriminativa

A sabedoria discriminativa corresponde ao Buda Amitaba, de cor vermelha. Ele vai falar sobre as Quatro Nobres Verdades e propor a meditação em silêncio. Se nós simplesmente silenciarmos diante das múltiplas aparências, ganhamos um distanciamento em relação a elas. Isso vai nos ajudar a reconhecer a dimensão de sabedoria natural que não tem rosto, que é ampla como o espaço. Dessa forma, recuperamos a consciência de Darmata e do Buda primordial.

Sabedoria da Causalidade

A sabedoria da causalidade corresponde ao Buda Amogasidi, de cor verde. Entendemos que ações de um certo tipo produzem resultados de um certo tipo, e ações de outro tipo produzem outros resultados. Dentro da história que decorre dentro dos espelhos, entendemos o poder do carma em direcionar as várias experiências. Geramos as quatro formas de ação: ação de poder, ou seja, não oscilar diante das configurações das aparências que surgem nos espelhos e não se perturbar; pacificar as mentes dos seres que estão em meio àquilo; promover direções positivas para as mentes dos seres e conter as ações negativas.

Sabedoria de Darmata

A quinta sabedoria, de cor branca, é simbolizada no centro da mandala* que tem quatro lados – as sabedorias anteriores – é a sabedoria de Darmata, que corresponde à inseparatividade completa das aparências e da própria mente dos seres. Há essa substância não-dual, que é Darmata. A mente e as aparências são não-duais e não se separam. A consciência não-dual, não-discriminativa e não-discursiva é a própria manifestação incessante de Darmata. Essa sabedoria é o acesso direto ao Buda primordial.

O Caminho

Esse é o caminho: evitamos as emoções perturbadoras e as ações não virtuosas, promovemos as cinco sabedorias, e cada uma delas gera as quatro qualidades incomensuráveis (compaixão, amor, alegria e equanimidade) e seis perfeições (generosidade, moralidade, paz/paciência, energia constante, concentração, sabedoria) . Isso se dá em quatro níveis: no nível grosseiro, mas também no nível da energia, da mente e da visão de mundo.
As cinco sabedorias e as dez ações virtuosas (as quatro qualidades incomensuráveis e as seis perfeições) em corpo, energia, mente e paisagem caracterizam o software das terras puras. Nós podemos não ter a clareza completa disso. Quando temos a clareza completa estamos na mandala do Buda primordial. No lugar onde estamos, um pouco percebemos isso e um pouco flutuamos.
Quando esse aspecto se torna dominante – o referencial específico para operarmos – surge a experiência de terra pura, que não é uma experiência de samsara. O samsara está baseado nas emoções perturbadoras e nas ações não virtuosas. Aqui estamos operando com outro conjunto totalmente diferente de referenciais e formas de ação.
Trecho do ensinamento oferecido por Lama Padma Samten no dia 10 de abril de 2021, durante o retiro “As terras puras e a prática na vida cotidiana”
Transcrição de Clarissa Gleich
Edição e revisão de Stela Santin
*A mandala da foto desse post é do teto do templo do CEBB Caminho do Meio, em Viamão-RS

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