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Budismo, meditação e cultura de paz | Lama Padma Samten

O quinto passo do nobre caminho óctuplo – Lama Padma Samten

Transcrição de um trecho dos ensinamentos de Lama Padma Samten durante o retiro “Prajnaparamita: convidando as aparências para o caminho”, no templo do CEBB Caminho do Meio (Viamão, RS), de 7 a 9 de abril.


O quinto passo é trazer benefício aos seres. Essa parte seria assim, no caminho Mahayana: praticar compaixão, alegria, amor e equanimidade – as quatro qualidades incomensuráveis. E as seis perfeições: generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria. Dez ações. Isso é uma boa coisa… A gente pode não conseguir fazer isso perfeito, mas qualquer uma dessas ações já se dá fora do contexto das identidades.
Por exemplo, compaixão não é alguma coisa da qual a gente se beneficie, é alguma coisa que a gente está beneficiando o outro, então não pertence às bolhas. Isso é super importante. São dez ações que não pertencem a bolhas. Estou beneficiando o outro no contexto da bolha dele, mas não da minha. Então, a gente descobre que a compaixão é uma coisa que transcende a operação das bolhas. A gente vai ver que, realmente, a palavra compaixão só faz sentido porque ela atravessa a bolha, ela se dá fora da bolha. Porque dentro da minha perspectiva de bolha, eu tenho uma relação normal com as pessoas dentro da bolha, mas compaixão é alguma coisa que transcende a minha própria bolha, senão não consigo chamar isso de compaixão. Eu estou vendo o outro no contexto do outro, entendendo as dificuldades dele, vendo que ele tem qualidades. Então, eu vou estimular as qualidades dele e evitar os obstáculos para que a experiência dele seja melhor. Mas não diz respeito à minha experiência, entende? Eu estou fora da bolha. É uma ação fora da bolha. Isso é extraordinário! Nós podemos fazer ações fora da bolha. Isso é compaixão.
Amor. Capacidade de ver o outro, reconhecer qualidades positivas e incrementar essas qualidades positivas. Isso também não diz respeito a eu gostar ou não gostar, diz respeito ao outro dentro do mundo dele, então nós estamos operando fora da bolha.
Alegria. Essa alegria é uma energia que nos sustenta, mas veio das ações de compaixão e de amor que estavam fora da bolha. Então, a gente descobre uma central própria de propósito e de brilho fora da bolha.
Equanimidade. A gente se dá conta que a gente pode fazer isso em qualquer direção, pode operar fora da bolha manifestando compaixão, amor, alegria, energia fora da necessidade de estarmos presos às bolhas.
Isso é totalmente libertador. Isso é maravilhoso! No caminho da primeira volta do Darma, isso seria a realização final – as quatro incomensuráveis. É como se fosse a primeira descrição do processo de liberação total.
No caminho Mahayana, a isso são adicionadas as seis perfeições. Quando as qualidades incomensuráveis surgem, nós naturalmente vamos manifestar generosidade, que é a primeira da seis perfeições. Só que é uma generosidade em que não há alguém, não há algo e não há outrem. Então esse é um ponto curioso, porque, dito assim, parece que é meio impossível. Então não se trata de generosidade, isso é chamado a perfeição da generosidade. O bodisatva exerce isso mas não diz “Eu sou alguma coisa. De dentro da minha bolha eu estou dando isso – que é muito precioso pra mim dentro da minha bolha – para você dentro da sua bolha. Vê se você usa direito e fica me devendo esse favor, entendeu?” Não tem isso, não tem essa questão, porque a alegria do outro, o benefício do outro, é uma extensão da atividade de uma mente mais ampla, não é uma mente de uma bolha, ela está alcançando a mente do outro, essa mente se espelha no que acontece com o outro. Então, a pessoa não está presa dentro de uma bolha negociando com alguém dentro de uma outra, não é isso. A mente onisciente chega ao outro de forma completa. Não tem alguém ali, não tem aquele movimento.
Isso é como se fosse a sabedoria da igualdade, o Buda amarelo. A generosidade inclui. Quando o outro ganha, nós ganhamos, não é que aquilo saia de nós e vá para o outro. Nós ganhamos com aquilo, porque a nossa mente não é estreita, ela alcança o outro. Isso é generosidade.
Então, se diz: quando não há generosidade, isso é a generosidade. Quando a generosidade se estabelece, não há uma generosidade, por isso nós vamos dizer que é a perfeição da generosidade. Isso é super importante. Isso dialoga com a linguagem taoísta. Na linguagem taoísta é assim: se eu falo de generosidade é porque não há generosidade. Porque quando há generosidade, não há generosidade, vocês entendem? Por exemplo, se a mãe diz “eu estou sendo generosa com você”, aquilo tem um problema que está acontecendo ali. Mas se a mãe simplesmente se move e traz o benefício, a mente dela é mais ampla do que ela mesma, então a alegria do outro é a alegria dela, não tem generosidade nenhuma. É como a pessoa cuidando dos filhos que não tem uma sensação de generosidade com uma criança que, enfim, mais adiante vai ser um adulto e é bom que ela lembre o que eu fiz. Não tem isso. Não acredito que uma mãe possa pensar que mais adiante vá falar pro filho o quanto ela fez. Não posso imaginar isso… [risos] Então, generosidade é isso.
É frequente entre os pais… Os filhos poderiam ter a consciência da alegria de ter aqueles pais. Às vezes eles têm e as vezes não têm, mas muitas vezes os pais têm a sensação de grande felicidade por terem aqueles filhos, por poderem fazer aquilo por aqueles filhos. Então, isso é uma coisa bonita: porque eles vêm os filhos indo bem, eles se alegram. Isso é super importante, Isso é a sabedoria da igualdade. Nós nos alegramos porque os outros estão bem e nós somos agentes nesse processo. Então a nossa mente é onisciente, ela não está presa em uma bolha, nossa mente é ampla, ela alcança. Isso já é a mente Mahayana. Vocês olhem: a mente Mahayana não é uma bolha, não está dentro de uma bolha, ela é capaz de fazer isso que é incomum. Incomum totalmente. Dentro dos doze elos da originação dependente não existe esse padrão. Vocês vão estudar os doze elos e não aparece compaixão, amor, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade… Não aparece nada disso. Isso surge porque a mente é mais ampla do a mente das bolhas.
Então surge moralidade. A pessoa está praticando compaixão, amor, alegria, equanimidade e generosidade, e aí brota moralidade. Por quê? Porque a pessoa não vai causar prejuízo pros outros – porque ela as está protegendo – em benefício próprio, ela não vai fazer isso. Então, a moralidade é natural.
A partir daí surge paz. Porque a pessoa não está dentro do estresse das bolhas, surge paz, que é o estado natural. A pessoa perde a paz quando está dentro das bolhas, operando por identidades tentando obter resultados de algum tipo, aí ela perde a paz. Aqui não…
Quando ela tem paz, a energia dela estabiliza: energia constante. A energia estabiliza e a mente se torna concentrada, porque ela olha pra uma coisa e não tem uma perturbação atrás, deslocando ela para outra direção – energia constante.
Quando tem energia constante, tem concentração.
Quando tem concentração, tem sabedoria. A perda da sabedoria vem pela ignorância. A ignorância surge da fixação na bolha. Aqui a pessoa está operando fora da bolha.
Então, isso é o quinto passo do Nobre Caminho.

Assista ao ensinamento completo

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