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Budismo, meditação e cultura de paz | Lama Padma Samten

Paz na carreira profissional

Tornou-se cena corriqueira ver pessoas desempregadas, funcionários insatisfeitos e empreendedores inquietos. O sofrimento não se restringe a milhares enfileirados à procura de trabalho. Empregados estagnados mergulham em dúvidas sobre se escolheram a profissão certa e empresários perdem o sono com vendas em baixa e impostos e contas a pagar. Nos três casos, o sentimento comum de busca da paz profissional e, com isso, a felicidade. Buda tem algo a ver com isso? A resposta vem de um homem cuja história de vida segue uma trajetória inusitada. – Me afastei da universidade porque descobri que a física não poderia me oferecer todas as respostas para a natureza das coisas. Encontrei isso na espiritualidade – afirma o lama Padma Samten, conhecido até 1993 por Alfredo Aveline.

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) de física e filosofia no período de 1969 a 1994, intensificou seu interesse pelo budismo no início dos anos 80. Em 1993, aderiu ao budismo tibetano, recebendo o nome de Padma Samten (Padma significa lótus, e Samten, estabilização meditativa), e em dezembro de 1996 foi ordenado lama do budismo tibetano – título que significa líder, sacerdote e professor. O lama, primeiro a ser ordenado no Brasil, reside hoje em uma área rural de 42 mil metros quadrados na Estrada Caminho do Meio, em Viamão, onde se localiza a sede do Centro
de Estudos Budistas Bodisatva, criado e presidido por ele. Divide seu tempo entre afazeres do centro e palestras em empresas pelo Brasil. A física permanece em seu campo de estudo como uma atividade complementar. Em 26 séculos de budismo, afirma Padma Samten, uma das estruturas do conhecimento mais desenvolvidas foi a de aprender como usar a mente e entender a realidade ao redor, algo que recebeu menos atenção na cultura ocidental, em sua análise. Quando profere palestras a empresários e executivos sufocados pelas agruras da competição acirrada e ávidos por uma mensagem de paz, o lama mostra como os ensinamentos de Buda podem ser aplicados em atividades econômicas e no mercado de trabalho:

– A lei básica do mundo econômico é curiosamente a da compaixão. Quando uso essa palavra a reação natural das pessoas é negar isso. Mas, se uma pessoa se aproximar da sua organização e você não tiver nada para oferecer, ela vai embora. O ponto central é esse: não é o que vou ganhar em uma relação de troca, mas o que tenho a oferecer.

Ensinamentos para a vida profissional

Como os ensinamentos do budismo tibetano podem servir para auxiliar na busca de uma vida profissional mais serena:

• Não se vincule a processos transitórios (chamados de impermanentes no budismo). – Tudo tem um começo, um meio e um fim. Isso vale para tudo, do casamento ao funcionamento de uma empresa – diz o Lama. Ele conta que certa vez foi convidado por um amigo de uma empresa que acabava de realizar uma associação com uma multinacional para ministrar palestra na inauguração de um projeto. Ao falar sobre a transitoriedade das coisas, no final da palestra, foi interpelado pelo amigo, que o questionou, em tom de brincadeira, se o tema era adequado para a ocasião. – É essa a verdade, não podia mentir a eles – resigna-se o Padma Samten.
• A dependência a processos impermanentes causa sofrimento. – Você não é um funcionário. Você se criou como um funcionário. Quando você apresenta seu cartão de visitas ou seu currículo, não acredite que você é aquilo, você é aquele que construiu o seu currículo.
Nunca perca a clareza de que as pessoas têm uma natureza própria. Tenha capacidade de estabelecer vínculos, mas com a consciência sobre a transitoriedade (impermanência) das coisas. – Todas as nossas tragédias são tragédias do personagem. Se suas circunstâncias afundarem, você não precisa afundar junto – ensina o lama.

– O treinamento para atingir esse estágio, de estar vinculado e ao mesmo tempo livre, é a quarta verdade de Buda, explica o lama. Ela se divide em outras quatro:

• Motivação correta
• Não trazer sofrimento aos seres
• Trazer benefício aos seres
• Dirigir a própria mente (é preciso tomar decisões capazes de serem implementadas) 

Ansiedade, competição e falta de tempo

“É evidente que quando se trabalha com agenda teremos um estresse maior. Tudo que for limitado por prazos dificilmente será realizado de forma prazerosa. Eu sugiro tentar trocar a agenda pela motivação. A motivação tem um objetivo estratégico sem prazo que é “eu vou estar melhor se estiver efetivamente trazendo benefício aos seres”. A pessoa não está preocupada com um cronograma que tenha estabelecido. Esse cronograma é completamente artificial. O ponto central é estar focado em trazer benefício e causar o mínimo de danos aos outros. Isso foge ao espaço temporal.”

O desemprego

“Se você não se acha útil para alguma coisa, é melhor nem procurar emprego. Enquanto você tiver essa dúvida – se é útil ou não –, não tem a energia para chegar. Agora, quando você tiver a certeza de sua utilidade, é diferente. Antes de chegar a uma empresa, é preciso ver de que forma você pode trazer benefício àquela organização. Faça uma investigação cuidadosa. Quando você chegar para a entrevista, tem de estar apto a dizer “sorte sua, você me encontrou”. Acho que existe um grande engano, no processo geral, de a gente sempre imaginar que alguém vai resolver nosso problema. E aí temos uma diferença entre os empreendedores e os empreendidos. O empreendedor é aquele que olha de uma maneira mais ampla. Nem sempre dinheiro é o problema. Posso buscar associações com outras pessoas ou grupos. O que importa é não esperar pelos outros.”

Trabalho voluntário

“Se pegarmos a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o próximo ano, a expectativa de investimentos, e calcularmos o número de empregos a serem criados e o número de pessoas a entrarem no mercado de trabalho, saberemos que não há possibilidade de que todas as pessoas estejam empregadas. Então, necessitamos de compaixão, precisamos encontrar formas de superar esse quadro. Se eu preciso de um serviço e não tenho como pagar, será que não consigo alguém que faça isso para mim, em troca de outro serviço que eu possa prestar? Será que, se cada pessoa desempregada estivesse em uma ONG (organização não governamental) prestando algum tipo de trabalho voluntário, não estaria aprendendo a ser mais útil? A capacidade de ser mais útil que é a diferença. Enquanto ela estiver no trabalho voluntário, estará fazendo uma rede do melhor nível, aprendendo algo novo, que pode ajudá-la na busca por emprego”

Êxito

“Essencialmente, o que você precisa ter é algo que satisfaça o outro, que traga benefícios. O ponto central é esse: não é o que vou ganhar em uma relação de troca, mas o que tenho a oferecer. Muitas pessoas pensam o contrário e acabam alijadas. Isso vale tanto para o funcionamento de um negócio quanto para o mercado de trabalho. O budismo tem 26 séculos e é um empreendimento. Não é uma atividade com fins lucrativos, mas se move dentro do mundo econômico. O budismo não tem interesses econômicos, não remunera seus funcionários e seguidores. Ainda sim, mesmo sem ser uma atividade lucrativa, vive. A essência da estabilidade do budismo é que tem algo a oferecer para cada pessoa.”

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